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11 perguntas para Dan Roam – Pensando e comunicando com imagens.

Luiz Grecov
@luizgrecov

Antes de lançar a La Gracia, eu participei de alguns processos seletivos pois queria mudar da propaganda para o Marketing. Qual não foi a minha surpresa quando, em uma dinâmica, o entrevistador achou ruim o fato de eu ser uma profissional “muito visual” em meus trabalhos. Hoje, mais de 5 anos depois, afirmo e confirmo […]

Antes de lançar a La Gracia, eu participei de alguns processos seletivos pois queria mudar da propaganda para o Marketing. Qual não foi a minha surpresa quando, em uma dinâmica, o entrevistador achou ruim o fato de eu ser uma profissional “muito visual” em meus trabalhos.

Hoje, mais de 5 anos depois, afirmo e confirmo que o pensamento visual potencializa e ajuda muito nos processos empresariais.

Dan Roam, expert que ajuda empresários a comunicarem ideias usando imagens, descreve que qualquer um com uma caneta e um pedaço de papel (um guardanapo, por exemplo) pode explicar, mesmo as mais complexas ideias empresariais, bem como se comunicar melhor com clientes, fornecedores e colaboradores.

Divido com vocês aqui uma entrevista com ele, que se deu em junho de 2008, logo após a publicação de seu livro: “The back of the Napkin: Solving Problems and Selling Ideas with Pictures.” Nem preciso dizer que continua super atual…

Pergunta 1: A quais problemas você se refere ao falar sobre solução com imagens?

Resposta: Todos eles – desafios estratégicos empresariais, gestão de projetos, alocação de recursos, mesmo problemas pessoais – todos podem ser esclarecidos, senão resolvidos através de imagens. E as imagens que falamos são as simples. Você pode desenhar um círculo, um quadrado, uma flecha e você pode chamar qualquer uma das imagens de resolução de problemas.

Pergunta 2: Se qualquer um de nós tem um talento inato para o visual, porque não vemos mais imagens em negócios?

Resposta: Wall Street dita que negócio é um jogo de números e coisas, assim como P&L, OPEX, e o Cap Market são números para medir o óbvio. Diante disso, o mundo empresarial acredita que pessoas bem sucedidas se orientam analiticamente, tudo deve ser mensurável e quantitativo, as coisas do lado esquerdo do cérebro são habilidades que fazem grandes executivos. Esse modelo se torna uma profecia de auto-suficiência, mas é apenas uma metade. Ao negligenciar a importância e o desenvolvimento da inovação, da criatividade e das habilidades do “lado direito do cérebro”, as empresas muitas vezes falham ao não valorizar idéias, pessoas e pontos fortes do seu próprio negócio.

O visual, ao contrário da linguagem falada, não está localizada em um dos lados do cérebro. Visual demanda atividade do cérebro inteiro. Em qualquer escola de negócios, todo mundo, instintivamente, sabe disso, mas como “olhar, ver, imaginar e mostrar” nunca foi mensurado ou ensinado, poucos lideres empresariais reconhecem suas próprias competências.

Pergunta 3: Qual a parte mais difícil em fazer empresários levar o pensamento visual a sério?

Resposta: Não há dificuldade em convencer executivos sobre o poder das imagens desde que eles a vejam em ação. O difícil é convencê-los que isso pode ser feito por eles mesmos. Muitas pessoas são inseguras sobre a resolução de problemas com o uso de imagens porque são inseguros sobre a sua própria capacidade de desenhar. Eu gastei muito do meu tempo convencendo céticos de que, mesmo se o desenho for como o de uma criança do jardim de infância, isso já é bom o suficiente. De fato, quando éramos crianças (antes de aprendermos a ler e escrever), nós já éramos pensadores visuais.

Meu ponto não é criticar o avanço de nossa educação, é só para recordar que nós já sabíamos fazer isso – como descobrir ideias e transmiti-las através de imagens – muito antes de desenvolvermos nossas sofisticadas habilidades verbais. O pensamento visual de todas as formas – olhar, ver, imaginar e mostrar – é uma atividade inata que partilhamos. E é um crime que somente algumas pessoas, e efetivamente quase nenhum executivo, seja encorajado a desenvolver essas habilidades.

Pergunta 4: Qual a Neurociência por trás disso?

Resposta: Recentes avanços na visão científica têm indicado que existem várias “linhas visuais” ao longo dos quais nossos olhos viajam em direção e através de nossos cérebros. Cada linha cria diferentes pistas visuais no ambiente – uma procura identificar objetos ao nosso redor, outra entende o que eles são, outra determina quantos são, outra assiste às mudanças ao longo do tempo, etc. Este processo ocorre em paralelo, quebrando o mundo visual em elementos discretos que inicialmente tem um processo independente, e, em seguida, formam o todo em nossa mente.

O que é fascinante é que, se invertermos o processo e criarmos imagens da mesma maneira, podemos quebrar qualquer problema e seus correspondentes em distintas imagens – “quê”, “o quê”, “como” e “quando” – nós podemos transmitir o “como” e “porquê” para qualquer um de uma maneira que ele vai entender.

Pergunta 5: Por que alguns problemas são difíceis de ver e outros não?

Resposta: Complexidade é sempre o desafio – especialmente quando muitos aspectos do problema são mascarados por outros. Se nós vermos um copo com um furo no fundo, podemos deduzir a causa da poça de água no chão. O único problema com soluções “óbvias” é que o mundo é complexo, e coisas complexas tendem a ser óbvias somente depois que a solução é mostrada para nós. Que a terra gira em torno do sol é óbvio para nós agora, mas levou dezenas de anos para as pessoas verem isso.

A razão é porque nós não podemos ver tudo. Nossos olhos estão sempre sendo orientados por estímulos visuais, então nossas mentes gastam muito tempo mantendo coisas. É por isso que nós somos atraídos pelo simples. Se pudermos pegar algo rapidamente, então podemos passar à outra coisa. Mas temos que tomar cuidado com o simples. A ideia simples pode ser tão ruim como uma complexa. Não podemos confundir clareza com simplicidade. Ao olhar o problema, precisamos ver o que realmente está acontecendo, imaginar o que não está visível e, então, mostrar nossa descoberta para o outro. Assim, poderemos ver mais claramente o que está acontecendo e não se deixar enganar pela explicação “óbvia”.

Pergunta 6: Nos dê um exemplo de um problema empresarial que foi resolvido com um desenho.

Resposta: O mais famoso guardanapo empresarial é o do Mapa da rota do Southwest Airlines. Quando o executivo Rollin King e seu advogado Herb Kelleher sentaram em 1967 no St. Anthony´s Club em San Antonio, eles tinham a intenção de tomar um drinque pelo sucesso de um acordo. Em vez disso, King pegou uma caneta e, desenhando um triângulo em um guardanapo ele falou: “Espera um minuto. O que aconteceria se nós criarmos uma companhia aérea que só ligue Dallas, Houston e San Antonio? Nasceu a companhia mais rentável do mundo.

Pergunta 7: Porque você recomendaria que as pessoas abandonassem suas apresentações em powerpoint?

Resposta: Eu não sou Edward Tufte, eu não diria que usar o PowerPoint nos deixa retardados. O que eu digo é: quando se trata do PowerPoint, do Keynote, Open Office ou Google Docs, não descarto o software, mas não jogue fora a mentalidade. PowerPoint é apenas o martelo e não culpamos o martelo se o prédio cai. Não se deve culpar o software por sugar nossa comunicação. Quando se trata de organizar e estruturar a idéia e o enredo, o PowerPoint é um excelente instrumento como são Mindmaps, Visio e vários outros aplicativos. Mas quando chegar o momento de descobrir, desenvolver ou partilhar uma idéia, nada é mais poderoso do que uma simples imagem desenhada ao vivo, em frente, e idealmente, com a participação da sua audiência.

Além da ciência cognitiva e neurológica por trás disso, o fato é que, quando uma audiência vê uma apresentação elaborada e polida, que instintivamente acreditam que está finalizada, têm pouco espaço para adicionar algo construtivo nela. Por outro lado, quando se vê a imagem crescendo em frente aos seus olhos, independentemente de quão simples ou feia possa parecer, eles respondem emocionalmente e participam.

Pergunta 8: Porque você recomendaria tirar os computadores das salas de reunião?

Resposta: Eu amo tecnologia. Sou um geek como você pode encontrar em qualquer lugar, na verdade, como um hobby de fim de semana eu uso high-end e programas de desenho em 3D para criar ilustrações detalhadas de naves espaciais para o National Space Society. Quer dizer que nós temos mergulhado completamente em nossos computadores em todos os aspectos de nosso processo de pensamento e de trabalho, especialmente quando o uso de nossas máquinas inibe nossas habilidades inatas.

Eu criei cada figura do meu livro com nada mais que uma Sharpie e uma pilha de papel branco. Há um lugar e tempo para todas as ferramentas que temos à nossa disposição, e um encontro com a mente é o último lugar onde você precisa de um computador. Interagir com o teclado e com softwares não acrescenta em nada a nossa capacidade de pensar, e de fato, interfere com muitas das nossas habilidades cognitivas básicas, especialmente quando a espontaneidade, intuição, conectividade neurológica e comunicação instantânea são fundamentais.

Pergunta 9: Artistas são melhores que executivos?

Resposta: Algumas pessoas são melhores pensadores visuais que outras, assim como existem melhores cantores, esportistas ou decodificadores. Mas isso não significa que nem todos podem assoviar no carro, correr no parque ou jogar Suduko. Negligenciar notáveis habilidades visuais simplesmente porque alguém pode ser melhor é um desperdício de ideias e habilidades.

Eu não estou dizendo que o pensamento visual é o único caminho nem que é o melhor. O que eu digo é que problemas podem ser melhor esclarecidos com o uso de imagens, e é sempre útil para esboçar um problema, mesmo que por um minuto. Basta ver o que surge.

Pergunta 10: Porque é importante para nós, quebrar o pensamento visual no seu processo “olhar, ver, imaginar e mostrar”?

Resposta: Quando eu vou a reuniões de negócio, workshops ou seminários alguém sempre diz: “Eu não sou visual, não sei desenhar”. Minha resposta é que, se essa pessoa é visual o suficiente para entrar na sala e encontrar um lugar para sentar, ela é visual o suficiente para entender tudo o que vai ser falado e achar valores nisso.

A importância de compreender as quatro etapas do pensamento visual – olhar, ver, imaginar e mostrar – é deixar claro que o desenho é apenas uma ínfima parte do pensamento visual, e se trata apenas do final do processo, não do começo. Pensamento visual é como um jogo de poker: Nós olhamos nossas cartas, vemos os padrões, imaginamos o que nossos adversários tem nas mãos, mostramos nosso jogo e pegamos o dinheiro.

Pergunta 11: Como você acha que o pensamento visual vai transformar os negócios nas próximas décadas?

Resposta: Estamos justamente no início de uma enorme e inevitável tendência que vai assumir as operações comerciais e de comunicações e terá enorme impacto na concepção dos instrumentos utilizados por nós. Existem três mega-tendências no mundo dos negócios: globalização, sobrecarga de informação e gradativo aumento em complexidade.
Há mais dados e formas de linguagem do que nunca e há uma maior necessidade de empresários para tomar boas decisões rapidamente e comunicar suas ideias aos outros.

Uma edição da revista Fortune mostra um artigo que abre os olhos para o novo Boeing 787 e como ele está, literalmente, sendo construído ao redor do mundo. Aqui você tem uma demonstração da mais sofisticada e complexa máquina já criada, que está sendo montada em dezenas de países por pessoas que falam dezenas de línguas. Tudo isto só é possível porque a coisa toda – o avião, os processos, o projeto – é traçada em inúmeras imagens.

Maior confiança e conforto na utilização de nossas capacidades visuais – melhorar a nossa capacidade de analisar informações complexas, ver importantes padrões, imaginar novas possibilidades e mostrar claramente essas descobertas para os outros -vai tornar-se o nosso capital mais precioso. Analisando apenas um curto espaço de tempo para o futuro, pensar visualmente irá alterar significativamente como o negócio é feito de três formas:

1  Nos ajudará a tomar decisões mais rapidamente. Nos próximos anos, veremos mais negócios analíticos entregues em formatos gráficos que permitem a manipulação simultânea de números individuais e visualização de resultados e interações complexas. Haverá muitas companhias criando esse tipo de ferramentas.

2  Nos ajudará a comunicar nossas decisões e visões com mais clareza. Cada vez mais os empresários terão consciência do poder das imagens como ferramenta de comunicação, mais instrumentos estarão disponíveis para produzir gráficos, diagramas, cronogramas e mapas, isoladamente ou em grupo. A grande questão aqui é primeiro compreender o que queremos mostrar e aquilo que o nosso público está disposto a ver e só depois ir às máquinas.

3 Ajudará nossas equipes a tomarem decisões de forma mais eficaz. Os gerentes de projetos sempre terão em seu poder um cronograma visual para garantir que todos saibam o que será feito. O problema era que somente o gerente de produto podia entender o gráfico criado, o restante via como uma parede de hieróglifos. Várias empresas estão trabalhando com interatividade, equipes estão criando ferramentas de cronogramas com escala infinita. Essas ferramentas permitirão que diferentes equipes e em vários lugares, tenham um contato visual instantâneo com seu projeto e poderão monitorar qualquer necessidade e tudo o que estará acontecendo.

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