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A super líder

Joy Baena
@joycebaena

Não é à toa que nós conversamos muito sobre essas questões, o quanto precisamos nos auto-analisar, abrir e ter paciência para esperar o outro chegar aonde nós gostaríamos de chegar, mas de uma forma, uma estratégia completamente diferente da de outra pessoa. Para um controlador isso é quase impossível, mas eu confesso que, quando eu consegui, foi libertador.

A SUPER LÍDER

Tenho uma amiga, a Joana, que admiro demais. Ela é gerente de uma grande multinacional, responsável por uma equipe de 23 pessoas. De tempos em tempos, ela precisa dar um feedback individual e entender, dessas pessoas, o que querem fazer no futuro, para onde querem ir, em quais cargos desejam chegar etc. 

Eis que, em uma dessas reuniões, ela sentou-se com uma das colaboradoras da sua equipe e perguntou: 

– O que você quer fazer nos próximos dois anos?

– Bom, eu não quero ser gerente com certeza. 

Bom, sendo a Joana gerente, ela então franziu a testa e perguntou: 

Nossa, mas por que você não quer ser gerente? 

– Porque eu nunca poderia ser você. 

– Como assim ser eu?

– É só olhar pra você. O dia todo você entra e sai de reuniões, palestras, seminários. Toma decisões importantes, faz a gestão de 23 pessoas que te abordam o tempo inteiro. Você nos passa apresentações, projetos e tudo está sempre impecável. Sério, nunca vi um erro de português. Nunca vi, em nenhum momento, você se estressar com as pessoas. Você é sempre simpática, brincalhona. Escuta e trata todo mundo bem. Você sempre é gentil. Tá vendo? Eu não consigo ser assim! Eu já vi situações em que você estava ali, diante de um diretor que estava falando algo grosseiro. Se naquele momento, eu estivesse no seu lugar, tinha socado a cara do indivíduo. Não consigo ter a paciência que você tem, entendeu? Eu nunca poderia ser gerente”. 

Ao invés da Joana ficar feliz com aquele feedback, ela foi para casa e ficou mal. A cabeça girando, pensando sem parar no quanto as pessoas achavam que ela era perfeita. Isso estava longe de ser verdade. 

Chegada a noite, Joana não pregou os olhos. Foi um cigarro depois de outro, um copo de uísque e veio então a decisão: ela precisava falar com a equipe e acabar com aquela imagem.

No dia seguinte, marcou uma reunião logo cedo:

– Oi gente, bom dia. Reuni vocês para que possamos conversar sobre algo que só percebi ontem. Eu queria começar nossa reunião com uma pergunta: o que vocês acham de mim, como líder de vocês?

E aí foi aquele show de elogios, todo mundo falando a mesma coisa que a garota do dia anterior tinha falado. Joana respirou fundo e disse:

– Pois é. Todo mundo está vendo o resultado do meu trabalho, mas ninguém vê o que eu passo para chegar nesse resultado e foi por isso que chamei vocês.  

Naquele momento, Joana contou das noites sem dormir, contou das centenas de vezes que não teve tempo de almoçar ou jantar. Disse que estava sempre atolada de coisas pra fazer e que não era culpa de ninguém. Falou sobre a sua dificuldade gigantesca de dizer não, de pegar tudo para si. Também contou que assumia as tarefas porque, para ela, era muito mais fácil fazer as coisas do que simplesmente chamar as pessoas e dividir, porque ela tinha uma dificuldade gigantesca de pedir ajuda. 

– Eu sou muito controladora, gente. Percebi por causa de você. Obrigada. – apontando para a colaboradora que esteve com ela no dia anterior.

 – E se vocês olharem para a minha vida, gente, tá tudo um caos. Estou me separando, minha mãe está muito brava comigo porque nunca tenho tempo pra ela. A minha vida é só isso aqui. – e desatou a chorar – a minha vida na verdade é assim.

Ed: O que a colaboradora dela falou em um determinado momento serviu como um gatilho, na verdade. Até então, ela seguia dessa maneira achando que era o melhor dos mundos. O que nós fazemos, vamos fazendo e incorporando – eu sei fazer o projeto; eu faço e não peço ajuda para o outro.

Joy: Exatamente.

Ed: Em todo grupo, sempre tem uma pessoa que tem uma característica mais evidente de eficácia. E a pessoa vai ficando com aquela imagem de super-herói e, meio que inconscientemente, a pessoa até gosta porque a imagem dela é – eu sou boa, sou uma grande líder, sou uma grande gerente – mas o custo de tudo isso… O copo vai enchendo devagarzinho. Vejo que essa colaboradora mostrou para ela que o copo já estava transbordando. 

Joy: E foi muito interessante porque ela ainda não tinha percebido o quanto estava exausta, o quanto estava carregando o mundo nas costas, entendeu? Tudo estava em processo de destruição mas ela não tinha percebido. E sabe o que aconteceu depois disso? Ao se colocar vulnerável, ela foi acolhida. Porque as pessoas falaram pra ela: – Nossa, Joana. A gente não sabia que você estava passando por isso. A gente olha você do lado de fora e está sempre tudo bem. 

E as pessoas começaram a oferecer ajuda. Antes de passarem um projeto, começaram a perguntar se ela poderia realmente assumir. A Joana mudou várias coisas dentro dela. Por exemplo, ao levar alguma demanda para o time, ela passou a não entregar mais a solução, porque isso era algo que ela fazia com bastante frequência. Ela passou a levar o problema e perguntar mais a eles como poderia resolver. Parece algo bobo, Ed. Mas isso muda tudo! A equipe ganhou autonomia, poder de decisão, passou a participar mais dos processos e, consequentemente, as pessoas ficaram mais engajadas. Mas o maior ganho? Tudo ficou mais leve pra Joana.

Ed: Ela quis dividir o peso das coisas. Eu imagino que para ela, essa mudança esteja sendo um processo extremamente difícil. Do jeito anterior, tudo já estava definido, pronto – eu sou, eu faço. E a posição dos liderados também já estava clara. Agora ela mudou para um modelo onde não existe a definição das coisas. É um jogo constante de distribuir e cobrar tarefas, mas sem essa necessidade de tanto controle, de tanto poder e que, muitas vezes, mina a energia de muitos líderes.

Joy: Ed. Sabe o que eu acredito que seja uma das coisas mais difíceis? O controlador não se percebe controlador. Você só vai. Quando é chamado para resolver um problema, a cabeça já está cheia de soluções baseadas nas experiências e conhecimentos que você já tem. E é fácil resolver, então você resolve, mas também atropela, pisa, não escuta. O contrário disso é pisar no freio e entender que o seu jeito não é o único de resolver. É entender que você precisa ter paciência e entender muito bem que resultado quer, mas que não pode controlar o caminho, a estratégia que será usada. A forma como a outra pessoa vai resolver aquilo é a forma dela. Então você tem que ter esse trabalho, sabe? De pegar uma britadeira e quebrar a si mesma. 

E digo isso porque sou muito parecida com a Joana. Não é à toa que nós conversamos muito sobre essas questões, o quanto precisamos nos auto-analisar, abrir e ter paciência para esperar o outro chegar aonde nós gostaríamos de chegar, mas de uma forma, uma estratégia completamente diferente da de outra pessoa. Para um controlador isso é quase impossível, mas eu confesso que, quando eu consegui, foi libertador. E nós estamos vivendo em um momento de sociedade que a autonomia se tornou essencial. Antigamente, era um campo aberto para os ditadores, para as pessoas que simplesmente tinham um líder e esse líder comandava as equipes. Mas com essa quantidade de gente que temos no mundo e com a informação toda disponível como temos hoje, não tem mais espaço para esse tipo de liderança, entendeu? O líder tem que aprender a contar com as pessoas, porque senão ele adoece, fica louco, porque é muita coisa para resolver. Imagina, uma empresa de 150 mil pessoas, 23 pessoas na equipe. Se você for controlar todo mundo… fica aquele líder magrinho, desnutrido, sofrido e a galera tudo de boa. 

Ed: E com o isolamento que vivemos e com o trabalho híbrido, que se tornou uma vertente, se o líder mantiver essa necessidade de saber como está a vida da outra pessoa, sem ter contato com ela, vai sofrer demais. O que vejo é que a confiança, se torna essencial nesse novo modelo. O líder precisa confiar que a pessoa, independente de onde estiver, seja no escritório, na casa dela, na casa da tia ou no Caribe, está fazendo, está entregando. A entrega, o resultado é o que importa. Ou seja, este momento é extremamente oportuno para transformarmos essa necessidade de controle dos caminhos e processos. 


Joyce Baena
é sócia fundadora da La Gracia, roteirista, palestrante, designer, especialista em metodologias colaborativas e experienciais, apaixonada pelos temas de humanização, compreensão, vulnerabilidade e empatia.

Ed Conde, há mais de 20 anos é provocador, facilitador, consultor, palestrante e mentor de projetos de efetividade de conhecimento e comunicação humanizada. 


Por trás de todo ato de comunicação, existe um universo inteiro a ser desvendado.

Amamos histórias e acreditamos que elas são capazes de ensinar muito mais do que conceitos desconectados da realidade.

Por isso, baseada em fatos reais, essa história conversada, tem o objetivo de abrir novos pontos de vista sobre a comunicação.


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