Vamos fazer um exercício? Procure lembrar-se daquele restaurante fantástico que você visitou uma única vez, provavelmente em sua última viagem ou para comemorar uma ocasião especial, e que te marcou para sempre. Lembre como cada detalhe, desde os móveis, passando pela iluminação, roupa dos funcionários, cardápio, tudo parecia extremamente pensado e com um propósito: proporcionar uma experiência incrível. Pois bem, não só parecia, tudo ali foi provavelmente pensado e planejado para causar exatamente esse tipo de efeito. É o que se tem chamado de Design de Experiência. Bom, exercício feito, vamos ao real objetivo desse texto.
Pense a forma dada à sua comunicação como um espaço planejado para atividades experienciais voltadas ao público: desde um restaurante, como no exemplo, passando por um parque de diversão, um hotel, uma sala de cinema, uma pista de boliche, um mirante turístico, etc. A atividade em si, comparada aqui com um assunto qualquer a ser comunicado, já seleciona parcialmente o público de interesse, mas outros fatores de composição espacial – como os detalhes citados no parágrafo acima – irão contribuir prioritariamente para a adesão de públicos específicos e um grupo de aventureiros experimentadores buscando novidades sem garantia prévia. Comparemos tais detalhes com os “elementos visuais” usados em nossa comunicação.
Será que somos igualmente cuidadosos na construção de nossa comunicação? Estamos acostumados a proporcionar boas experiências ao nos comunicarmos para assim alcançarmos mais e melhor o nosso público? Encaramos a tarefa de comunicar como um projeto a ser elaborado com cautela e preciosismo?

Percebo que muitas pessoas ao terem que criar materiais de comunicação se perdem no infinito de possibilidades das combinações visuais e isso as deixa muito angustiadas, porque elas tem noção zero do que pode funcionar. Elas não sabem escolher e perdem um tempo enorme tentando, no erro e no acerto, ver se fica bom. Ficam inseguras e indecisas, porque quando acham que está bom mostram para outras pessoas, e as pessoas ou detonam e não sabem dizer por quê ou falam que está bom para serem gentis (típico brasileiro ruim de feedbacks). Nesse caso, as pessoas validam o material e seguem juntas. Mas o resultado não é satisfatório, porque as escolhas não estão embasadas em conhecimentos concretos sobre o assunto.
Com maior consciência crítica visual,
é possível se apropriar melhor de cada elemento
(cores, formas, fontes, imagens, fundos)
como uma ferramenta para alcançar o seu objetivo.
Cada elemento passa a ter uma função clara, nada será escolhido aleatoriamente porque é bonito simplesmente, e sim de maneira consciente para transmitir a mensagem que você deseja.
Acredito muito na democratização do design. No aumento coletivo do senso crítico visual, no poder de análise. Mesmo que você não precise fazer uma apresentação, isso irá ajudá-lo a entender o processo que está por trás das escolhas visuais e o quê elas refletem nas pessoas ao seu redor. Assim, se um dia você precisar pedir a alguém ou contratar uma empresa pra fazer sua apresentação, anúncio, relatório, banner, você saberá o quê pedir, como pedir e terá muito mais poder para alcançar exatamente o seu objetivo.
Temos medo do julgamento do outro e, por isso, nos aprisionamos cada vez mais em nossas planilhas extensas e argumentos embasados tecnicamente que possam nos defender de qualquer “ataque” que teste nossa habilidade intelectual. Mas, se entendemos infinitamente mais rápido e melhor uma informação representada visualmente, por que não nos esforçarmos mais para desenvolver a capacidade de nos valer desse recurso quando queremos nos comunicar?
Sem pensar na funcionalidade, as informações se perdem ao longo do caminho e não são compreendidas, ou o são, porém, de maneira distorcida. Isso dificulta processos, gera desestímulo da equipe e conduta reativa muitas vezes estabelecida pela falha de comunicação.
Agora imagine pessoas que interagem melhor no ambiente de trabalho pelo simples fato de terem entendido o que precisa ser feito, o plano de ação, o desafio proposto, etc… Imagine relatórios mais objetivos, murais de avisos mais eficientes, manuais de instruções e procedimentos mais representativos, reuniões e apresentações precisas e que geram ações desejadas pelos gestores e principalmente pela empresa.
Mas para quem o design importa e por que importa?
Para todos nós.
Tanto do ponto de vista do interlocutor quanto do público-alvo. Na vida pessoal e profissional revezamos entre essas 2 posições.
O design facilita nossas vidas e está tão intrinsicamente presente, que não conseguimos percebê-lo.
Aliás, o bom design é aquele que não conseguimos ver, pois elimina os problemas que poderíamos ter caso ele não estivesse ali presente.
O design importa para todos nós, profissionais, crianças, homens, mulheres, donas de casa. Seja para descobrir onde fica uma rua, seja para encontrar o portão de embarque no aeroporto, ou os banheiros no shopping. O design está presente em tudo o que fazemos. Na disposição dos elementos em um site, facilitando achar o que você está buscando, na leveza de uma caneta para não cansar a mão, na composição de uma prateleira de supermercado, para facilitar a visualização de um produto e promover sua compra. O design está na roupa que vestimos, no sapato que calçamos, no computador que usamos. Ou seja, sem ele nós estaríamos fadados a ter produtos e serviços não pensados, não planejados, que nos deixariam com muita raiva pela quantidade de falhas que apresentariam.
Quando somos interlocutores, temos objetivos a serem cumpridos em nossa comunicação, e, se desejamos mais credibilidade e engajamento, sobretudo no trabalho, o design pode ser um grande aliado para planejar e traduzir de um jeito simples, informações muitas vezes técnicas ou detalhadas demais.
Do ponto de vista do público, nos sentimos melhor e mais acolhidos com informações acessíveis e visualmente bem resolvidas. Pensamos que o responsável por transmitir aquela informação se preocupou em fazer um bom trabalho, profissional e bem realizado. Nos sentimos respeitados como audiência/público e sentimos que não estamos perdendo o nosso tempo. Como público, vivemos uma experiência melhor, entendemos mais e nos dispomos a estar realmente ali, presentes, no instante da comunicação, nos sentindo inclusive confortáveis e envolvidos para interagir e trocar pontos de vista.
Quando o design elimina os ruídos de comunicação tais como diagramação confusa, excesso de textos e imagens de interpretação duvidosa, nós, como público, passamos a prestar atenção no que realmente importa, ou seja, é o conteúdo e a riqueza nas discussões que se tornam os pontos de atenção. Tudo o que poderia desviar a atenção disso foi eliminado no planejamento.