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O dia em que eu disse “não” para a minha chefe

Paula Aftimus
@paula-aftimus

De onde vem o medo de dizer não ao chefe e por que temos tanta dificuldade em negar algo a alguém em posição de liderança? Quando somos vistos como seres humanos, o não é algo natural.

De onde vem o medo de dizer não ao chefe e por que temos tanta dificuldade em negar algo a pessoas em posição de liderança? 

“Sabe o que eu fiz hoje? Eu disse não para a minha chefe”. Durante toda a semana que isso aconteceu eu repeti essa frase algumas vezes para pessoas diferentes. A reação, unanimemente, era de espanto. “Por quê? O que aconteceu?”

como dizer não para o seu chefe

Não se recusa algo ao chefe a não ser que algo tenha acontecido. Algo sério. Um conflito, uma impaciência, um confronto. Porque o chefe é uma autoridade e, numa sociedade que valoriza estruturas hierárquicas e figuras de poder, desafiar uma ordem não é algo cotidiano.

Além disso, num mundo em que “quem paga manda”, existe um consenso geral de evitar desagradar provedores (e aí poderíamos também levantar a questão dos relacionamentos abusivos, mas isso pode ficar para outro texto).

Junto a isso, existe ainda o contexto econômico. A previsão de crescimento da economia mundial para 2020 deve ser a menor desde 2009 (de 2,4%), segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Ou seja, perder o emprego é um medo concreto para o qual discursos de empoderamento, independência e “seja seu próprio chefe”, apesar de muito tentadores, são ainda pouco realistas.

 

O medo de dizer não

“A vida é maravilhosa quando não se tem medo dela”. Essa frase, de Charles Chaplin (lembram de “Tempos Modernos”?), diz muito sobre por que nos sentimos tão desanimados tão frequentemente. Quando foi a última vez que você disse ou ouviu alguém dizer que “a vida está maravilhosa”?

É difícil se entusiasmar com o mundo quando se tem tanto medo dele. Estamos constantemente nos blindando de possíveis ataques, sejam eles reais ou criados. No trabalho, em especial, além do medo de perder o emprego, carregamos conosco uma série de outros receios – a maioria injetada em nós ao longo dos anos, pela família, pela escola, pela sociedade – como o medo de não ser bom o suficiente, o medo de errar, o medo de não dar conta.

Dizer não ao chefe, então, seria admitir todos esses horrores. O não, em nosso subconsciente, ganha complementos. Não… fui boa o bastante. Não… consegui me programar. Não… sou digna de ocupar esse cargo.

Mas o não pode ser simplesmente não. E deve ser.

 

Eu sou uma pessoa

Como pessoa única que sou (não somos todos?), tenho minhas manias, meus humores, minha rotina. Tenho momentos de irritação, de alegria, de insegurança, de confusão. Tenho na minha vida pessoas que gosto mais e outras que convivo por obrigação. Assim como absolutamente todo mundo, tenho um monte de problema – e também um monte de pequenas coisas pelas quais sou apaixonada.

E é essa a pessoa que existe no escritório e que convive com chefes e colegas: a das manias, dos humores, dos problemas e das paixões. Ela não fica em casa quando eu entro pela grande porta de madeira. O que acontece é que partes dela ficam mais escondidas, como bibelôs reposicionados na estante numa casa com criança pequena.

A ideia que problema pessoal não cabe no trabalho é ilusória. Uma pessoa não se distancia de dívidas, de mãe doente, de geladeira vazia, de crise no relacionamento, só porque vestiu o crachá da firma. E, sim, essas preocupações interferem na produtividade. Mas, como inúmeros estudos já comprovam, manter as emoções por perto, em vez de abafá-las com vergonha e julgamentos, contribui para a manutenção de qualidades cada vez mais fundamentais num bom profissional, como capacidade de inovar, criatividade e resiliência.

 

E o que tudo isso tem a ver com o meu “não”?

Quando se entende que aquele “recurso” é, na verdade, um ser humano, que, como tal, carrega consigo um monte de problemas (muitos inerentes à empresa), a relação fica muito mais fácil. Acredite.

Cobranças são substituídas por conversas, controle vira confiança e o tão almejado engajamento vem de forma natural. Leva tempo? Claro. Ou você conhece alguma relação consistente que se deu de um dia para o outro?

O meu “não” veio de forma espontânea e sem medo. SEM MEDO. Porque eu me sinto percebida. Quando eu abro a grande porta de madeira, não é preciso reorganizar bibelôs (talvez alguns rs). E, se sou entendida como alguém com uma vida fora do trabalho, por que haveria qualquer problema em, quando necessário, expor essa vida dentro da empresa?

“Paula, você pode entrar em uma reunião agora para decidirmos alguns pontos da campanha?” Faltavam duas horas ainda para eu ir embora (dentro do meu planejamento, pelo menos). “Não, Camila. Preciso correr para casa e liberar meus pais de cuidar da Laura (minha filha) antes do rodízio.” A resposta? “Tá. Amanhã?” “Sim, amanhã, combinado”.

 

É preciso poder dizer não – e também saber ouvi-lo

Minha chefe (uma das sócias aqui da La Gracia, que certamente vai odiar que estou a chamando de chefe) provavelmente não se lembra desse dia. O meu “não” teve zero impacto em sua vida. Ela não se sentiu ofendida, não teve seu ego machucado, não fez julgamentos sobre meu profissionalismo. E a campanha foi planejada e executada sem qualquer abalo.

O que mudou foi a minha percepção de que… tudo bem dizer não. Faz bem dizer não, é saudável. E está longe de ser o fim do mundo. Quando nos comunicamos de forma empática, vendo o outro, ouvindo de verdade, focados no problema e não na pessoa, o “não” é mero ajuste de processos, cenários, expectativas. Ele não vem com complementos. O que o segue é apenas a vontade de transformá-lo em “sim” e como fazer isso.

 

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