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O professor provocador

Joy Baena
@joycebaena

E o que tem de humano em tudo isso? O protagonismo, a contextualização, a liberdade de pensamento, a relação com o assunto. Não era a história que era importante e sim o que nós achávamos da história. Ele mudou o foco completamente, saiu do conteúdo e nos colocou dentro do conteúdo. 

Ed: Quando eu tinha entre 15 e 16 anos, eu repeti de ano no primeiro ano do ensino médio. E isso se deu em uma instituição de ensino em que havia mais de seis recuperações para você poder passar de ano.

Joy: Tinham 6 tipos de recuperação e você reprovou?

Ed: Isso, exatamente, pra você ver meu nível de interesse na escola. 

Tinha uma recuperação que era próxima do Carnaval e se você pensar, o ano letivo acaba em dezembro. Ou seja, a escola fazia de tudo para você não repetir e mesmo assim, eu repeti. 

Quando eu voltei para cursar o novo ano letivo, esta escola separou os piores alunos em uma sala específica. Tudo o que havia de ruim em termos de nota e de comportamento, a instituição juntou em uma única sala. Eram 80 pessoas. Ou seja, eu passei a fazer parte da “elite” dessa instituição, no seu sentido negativo. Com isso em mente, Joyce, eu quero te fazer uma primeira pergunta: o que você acha que nós, alunos, sentimos ao chegar e ver que estávamos naquela sala? Porque, apesar de eu estar no grupo, eu fui pego totalmente de surpresa.

Joy: Olha, o que me vem à cabeça é uma necessidade da escola em punir vocês, marcar a ferro, deixar claro que vocês eram um exemplo ruim. E ao que me parece, isso foi feito da pior forma possível, porque eu imagino que vocês dentro dessa sala se sentiam discriminados, faz sentido? Era tipo uma jaula com marginais sendo expostos para a sociedade? Rsrsrs. 

Ed: Realmente, Joyce, a turma era complicada, porque a maioria eram alunos que tinham notas péssimas, e eu estava neste grupo. Mas havia também o grupo dos “baderneiros”. Mas por que eles fizeram essa sala? Porque não era qualquer professor que nos aguentaria. Eles chamavam alguns professores para fazer teste-piloto, pra ver quem iria conseguir dar aula para aquele grupo de 80 “bárbaros”. 

Eu me lembro que na primeira semana, quase nenhum professor ficou, porque a sala tinha uma reação física. Jogava papel, tinha campeonato para ver quem acertava a orelha do professor. Olha só que coisa maravilhosa! Quem acertasse a orelha do professor ganhava coxinha e cerveja no intervalo. Era isso mesmo!

Só que teve um dia que chegou um determinado professor que fez diferente. Ele ficou ali, parado na nossa frente, nos encarando. Parou mesmo, lá na frente. E a turma rebelde começou a jogar papel nele. Vários acertaram o nariz e ele permaneceu imóvel. E ele não tinha reações, ele não ficou bravo conosco. Isso durou um bom tempo. Só que, de repente, a turma viu que não estava dando certo a estratégia de sempre, então, todos ficaram quietos, a ponto de se estabelecer um silêncio mortal. Parecia um funeral, porque ninguém sabia como reagir ao professor, porque ele não abriu a boca. Ele só olhava para nós, em silêncio, passando os olhos pelos alunos. De vez em quando, ele olhava para uma pessoa específica e ficava um tempão só naquela pessoa. Todos ficaram com medo. O que será que viria dali? Por que ele não ficou com raiva, não reagiu? O desconhecido tinha surgido. 

De repente, ele olhou para nós e falou: – Vocês não merecem estar aqui. Vocês são especiais, criativos, inteligentes e vocês não mereceriam estar reunidos em uma sala de aula como essa. – E, logo depois disso, ele continuou: – Esta instituição não está correta em fazer isso.

Aí começou a brotar em nós a ideia de que surgiu um aliado, porque ele estava indo contra a própria escola que era a empregadora dele. E continuou – E sabem por que vocês não se entendem muito bem? Porque vocês não conhecem sua própria história. Não conhecem a história do porquê vocês estão em uma sala como essa. E eu vou fazer um trato com vocês. Durante o ano inteiro, eu vou falar da história mundial, mas ao mesmo tempo, eu vou comparar tudo o que eu falar com a história de vocês. E finalizando, ele completou – A história de vocês significa a família de vocês, o lugar onde vocês estão e a história dessa escola, a história da educação, a história da sociedade em que vivem. Vocês vão comparar um monte de coisas. Todo mundo ficou quieto e prestando atenção, coisa que nenhum professor tinha conseguido até aquele momento. 

Quando depois de algumas aulas ele começou a falar da Segunda Guerra Mundial, ele contou como surgiu a figura de Hitler e do Nazismo, ele nos levou para a época, como se nós fôssemos cidadãos alemães. E ele não falava nunca que algo estava certo ou errado. Ele simplesmente falava: – Vamos enxergar as coisas por várias perspectivas. Vocês vão tirar as suas conclusões depois. 

Durante aquele ano todinho, nenhum aluno faltou na aula desse professor. Nós chegávamos às sete horas da manhã, com chuva ou frio. Íamos para a aula dele como se estivéssemos indo para um show de música, para uma peça de teatro, com a mesma vontade, com o mesmo gosto porque ele ia nos trazer algum fato, algum exemplo que ia mudar a nossa percepção, não só sobre a história do mundo, mas sobre a nossa própria história. Ele nunca mandou nenhum aluno para fora porque nenhum aluno deu problema. Os chamados vândalos e rebeldes que, em outro cenário, eram extremamente complicados, se tornaram dóceis, se tornaram figuras amáveis.

Joy: Você está dizendo que esse professor trabalhava com a realidade, levava os alunos a um lugar diferente, a uma história diferente, quase como se fossem protagonistas de um filme, e depois comparava essa realidade com a realidade deles próprios?

Ed: Sim. Esse professor era um ser isolado na instituição porque ele foi endeusado por nós. E ele recebeu prêmios como melhor professor durante anos e anos seguidos, não só dessa unidade, mas da instituição inteira. Só que os demais professores não tinham interesse em saber o que ele fazia. A própria escola não gostava dele porque ele estava criticando um jeito que a própria escola adotava de nos segregar. Para mim, esse período foi muito marcante porque eu entendi o que significava humanizar uma aula. Pela primeira vez eu me interessei, eu vivi aquelas histórias, eu me senti o centro de tudo e isso foi um divisor de águas para o meu processo de aprendizagem. Eu sentia, tirava minhas próprias conclusões, ele não colocava nada de maneira impositiva. Ele pedia que alguns grupos falassem o que sentiam e conduzia a aula de um jeito, onde todos eram convidados a ouvir, sem definir o que era certo ou errado. Ele mostrou para nós como qualquer situação pode ser vista de várias perspectivas. O nosso objetivo era abrir a mente e não fechar, como acontecia em outras aulas. 

E o que tem de humano em tudo isso? O protagonismo, a contextualização, a liberdade de pensamento, a relação com o assunto. Não era a história que era importante e sim o que nós achávamos da história. Ele mudou o foco completamente, saiu do conteúdo e nos colocou dentro do conteúdo. 

Agora, por que é um divisor de águas? Porque eu percebi realmente que eu não estava excluído. Eu comecei a pensar muito em uma cultura geral, em um momento, em um sistema e esse professor nos resgatou. 

Joy: Que bom seria se tudo isso fosse assim, né Ed? Por que eu vejo o quão nociva é a forma como aprendemos até hoje. Você entra numa sala e é obrigado a somente escutar o que o professor tem a ensinar. O foco está no conteúdo e não na visão crítica. A sociedade insiste em formar pessoas “fazedoras” e não “pensadoras”. Outro ponto é que, ainda vivemos em um mundo onde a punição é evidenciada como exemplo para que o erro não aconteça. E talvez por isso que é mais fácil enfiar conteúdo goela abaixo, porque permitir visões diferentes, significa encarar o erro como parte do processo. Mas até hoje, o erro ainda é visto como algo inadmissível. Mas como vamos acertar, se não errarmos primeiro? A autonomia, o protagonismo, a própria inovação e criatividade não existem sem o erro. Quisera eu só ter tido professores assim. 

Ed: Com certeza. Ainda bem que eu cruzei com esse professor de história. Ele foi responsável por me fazer acreditar que existia um caminho diferente e isso me tornou quem sou hoje.


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