Escrito por João Filho, designer e ilustrador
O trabalho segue a tarde na companhia sonolenta de bocejos. Faz-se a hora de abandonar os Slides para uma visita a loja de conveniência ao lado do prédio da La Gracia; é preciso por cafeína para correr nas veias e desanuviar-se um tanto. Na companhia de colegas de agência, falamos sobre temas aleatórios, sorvendo o heróico líquido negro a volta da mesa. Eu me afasto para pegar mais açúcar e é então que meus quase um metro e noventa colocam minha cabeça em choque com um móbile publicitário instalado no local…
Ou será o móbile ainda o meu slide? Não, não. Eu saí da minha mesa e estou na rua.
Porque o móbile trás estampada uma imagem da mesma garota que a pouco abandonei em meu layout. Um tanto de esforço mental, e me recordo que a mesma garota aparece sorridente em uma paisagem tropical no anúncio de pacotes de viagem que vi pela manhã no metrô… E fazendo uma escavação mais profunda em meus arquivos mentais, eu recordo tê-la visto em mais e mais ocasiões…
A narrativa acima ilustra somente um dos problemas correntes a quem depende do uso de bancos de imagem. Situações como essas até geraram uma espécie de piada interna na La Gracia: são as musas do banco de imagem; Faces absurdamente correntes em tudo quanto é veículo de comunicação.
A faca de cozinha, em resumo, é um objeto destinado as nobres finalidades culinárias. Nas mãos de um tal Norman Bates, o aparato culinário ganhou finalidades aterradoras. A mesma analogia pode ser empregada quando o tema é uso de imagens de banco; é preciso manuseá-las com apreço.
Logo abaixo, listo alguns correntes maus usos deste recurso tão habitual ao universo do design de apresentações.
Você tem uma ideia. Você vai ao banco de imagem. Você encontra uma imagem que ilustra perfeitamente sua ideia. Provavelmente sua ideia é um clichê. Inconsciente coletivo, chame do que você quiser, mas se essa ideia foi a sua primeira, provavelmente foi a de muitas outras pessoas. Não corra o perigo de ver o apresentador seguinte usando a mesma imagem e a mesma frase que você utilizou. Apertos de mão para falar de compromisso, alguém?
E, ao falar de elementos prontos para o consumo, é sempre recomendável um olhar apurado na escolha de fotos com emprego de montagens e efeitos de Photoshop, pois muitas vezes bom senso não está dentre as qualidades da curadoria do banco de imagens.
É importante utilizar imagens de pessoas que despertem no público empatia e familiaridade. Embora sejamos um país multi étnico, vale lembrar que, por mais que um brasileiro seja branco, em geral ele ainda guarda certa dosagem de melanina – Sim, nós temos Sol!
Essa imagem é muito banco de imagem
Fotos com aparência espontânea e livre enriquecem seu layout e geram um resultado mais leve e simpático para vista. Infelizmente, muito do material encontrado nos bancos passa longe disso.
Por mais que seja complicado encontrar algo que fuja da atmosfera pasteurizada de luzes de estúdio, atolo de maquiagem, sorrisos forçados e afins, vale a pena garimpar um tempinho a mais em busca de uma imagem próxima à descrição acima.
Colcha de retalhos pode ser boa no inverno
A mesma afirmação não deve ser levada em consideração quando o tema é aglutinar imagens para sua apresentação. A sensação de unidade na distribuição de fotos dentro de seu layout ajuda a acentuar a ideia de continuidade e permanência do tema abordado. Se você pretende usar imagens feitas em estúdio com fundo branco, tente encontrar imagens similares para o resto de sua apresentação. Atente-se para a luminosidade, cores etc. Com isso, cria-se a ideia de que foram compostas especialmente para o seu propósito; soma-se valor a composição quando se tem algo com toque de exclusividade – no caso, um ensaio feito para sua apresentação.